“Se dependemos de fiscalização para manter medidas preventivas, perdemos a empatia como sociedade”

Karina Anunciato e Michael Franco

Reprodução - Ministério da Saúde

Com a nova alta de casos da covid-19 no Brasil, causada também pela disseminação das novas variantes do coronavírus, o Jornal das Sete, desta segunda-feira (08), entrevistou o infectologista e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Julio Croda, na tentativa de compreender o atual cenário da pandemia. Para ele, além do quadro delicado na Saúde e Economia, existe um problema social e humano.

“Se a gente depende da fiscaliza para manter as medidas preventivas, a gente perdeu empatia como sociedade. Temos que entender que a máscara não é um instrumento apenas para estar dentro do processo legal e fiscalizatório. É uma medida de empatia com o próximo de evitar transmissão. A gente precisa reforçar medidas individuais, caso contrário virão medidas coletivas com impacto tremendo social-econômico”.

Ouça a entrevista completa:

Sobre a nova cepa do vírus que se iniciou em Manaus e já está presente em Mato Grosso do Sul, Croda comentou que, por ser mais transmissível, a variante exige regras mais duras. “A gente deveria redobrar as medidas preventivas. Se a gente quer obter um controle da doença, precisa de uma adoção mais efetiva dessas medias. Porque o que a gente vem fazendo atualmente com uma variante mais transmissível já não é mais efetivo”.

O surgimento de mutações, segundo o entrevistado, são processos biológicos naturais de todos os vírus. Porém, é importante ressaltar que elas acontecem com mais facilidade em locais com maior transmissão. “Invariavelmente o Brasil é um local que tem muita transmissão […] A chance de novas mutações ocorrerem é justamente nos locais onde a gente não adota as medias preventivas. Não é atoa que nós temos uma das três variantes com impacto epidemiológico importante. Das três variantes conhecidas no mundo, uma é do Brasil, justamente por essa falta de controle da pandemia”.

Julio Croda é enfático ao traçar uma solução para o cenário. “Só a vacinação em massa”, diz ele acerca de um possível retorno à normalidade. Mas salienta que “a gente nunca vai voltar ao que era antes, esse vírus vai permanecer entre nós e teremos que conviver com essa nova realidade”.