45% da população de onças-pintadas sofrem com impacto das queimadas no Pantanal

No último mês de outubro, a revista científica ‘Communications Biology’ publicou o levantamento que indica que cerca de 45% da população estimada de onças-pintadas do Pantanal foi afetada pelas queimadas de 2020. O artigo que reúne pesquisadores do Brasil, Estados Unidos e Paraguai indicou que o fogo de 2020 queimou quase um terço do bioma.

Para a bióloga, médica veterinária e professora da UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), Paula Helena Santa Rita, este impacto apesar de significativo faz parte do próprio ritmo cíclico do Pantanal.

“O contexto dos animais do Pantanal é cíclico, assim como já vem ocorrendo com o bioma pantaneiro. As onças-pintadas são animais de uma importância e de uma visibilidade muito grande, nós temos grupos sérios que trabalham e já vem gerando esses dados faz algum tempo. Então depois desta seca intensa e queimadas esses grupos podem gerar esses dados que mostram esses números”.  

A especialista explicou que embora as alterações façam desta mudança do local, nem sempre isso é benéfico para a fauna.

“A gente começa a notar a presença desses animais, por exemplo, em perímetros urbanos. Só este ano, foram encontrados 2 animais, um capturado com sucesso, o outro não. Assim que é capturado, o animal é realocado para áreas não habitadas, e isso vem se tornando cotidiano nas cidades pantaneiras”.

A onça-pintada, maior carnívoro do país, ganhou muita publicidade com a exibição da novela ‘Pantanal’, este ano. A exposição proporcionada pela exibição em rede nacional, apesar de ajudar na preservação da espécie, ameaçada de extinção, é importante. No entanto, a superexposição pode gerar, em algumas pessoas, uma sensação de intimidade, de segurança na aproximação.

De acordo com a veterinária, que é coordenadora do Gretap/MS – Grupo de Resgate Técnico Animal Cerrado Pantanal – e esteve no resgate de animais silvestres em 2020 e 2021, esta atitude precisa ser encarada com bastante cuidado, afinal se trata de animal selvagem.

“Infelizmente essa humanização da fauna traz coisas negativas. O sistema de vida dessas animais é muito peculiar. A gente tem que tem muito cuido em associar a característica de vida de animais silvestres, como a onça-pintada, com característica de vida de animais domesticados. Então quando se tenta adequar uma situação como essas a esses animais eu tenho uma problemática que pode interferir na vida do animal na natureza. Quando pessoas que tentam alimentar, fazer o uso de recursos que não são indicados para esses animais, inclusive de forma aleatória, então é bem problemático esse contexto. A fauna existe, a preservação precisa ser exercida, mas a gente não pode humanizar esses animais. Toda ação voltada a conservação ela é metodológica e técnica.

Entre as orientações para quem visita o Pantanal, Paula Helena ressaltou que se avistar uma animal na natureza “pode fotografar olhar, contemplar de longe… mas jamais pensar em alimentar é crime, e saber sim, que este animal oferece risco”. 

A entrevista completa com Paula Helena Santa Rita você aqui: