Kwai paga alguns trocados para ter acesso irrestrito aos nossos dados, diz especialista em Direito Digital

Karina Anunciato e Michael Franco

O Kwai é o aplicativo da moda e não há como negar. De acordo com os últimos dados oficiais disponíveis, divulgados em 2020, o app chinês de vídeos curtos teria cerca 200 milhões usuários diários ativos no mundo e mais de 1,5 bilhão de downloads. A rede conquista cada vez mais pessoas com um incentivo: dar dinheiro para assistir e compartilhar. A facilidade do sistema pode fazer pensar que é apenas outro viral, desta vez rivalizando com o TikTok, porém a realidade é outra.

Em entrevista ao Jornal das Sete, desta terça-feira (25), o professor da UCDB e especialista em Direito Digital, Raphael Chaia alertou para algumas armadilhas nos termos de uso do app em que o usuário concede a coleta e o uso dos dados. “Basicamente esse dinheiro que o Kwai paga para o usuário são alguns trocados para que eles possam ter acesso amplo e irrestrito aos nossos dados e informações”.

“A gente tem que sempre que lembrar que não existe almoço grátis”, alerta o professor sobre o fato da simplicidade do aplicativo maquiar as intenções da empresa. “Sempre recomendo que quando algo é muito bom, dar uma olhada nos termos de uso e na política de privacidade do aplicativo para entender como vai funcionar”.

Raphael Chaia fez isso e conta que se surpreendeu. “Quando você entra na página está tudo em português, mas os termos de uso de privacidade estão em chinês”. O idioma é um impeditivo intencional evidente para compreensão de como a empresa age em relação à segurança dos dados dos usuários. Na tradução do do texto, o professor se deparou com trechos extremamente preocupantes. “Ele possui cláusula que deixa bem claro que dados e informações do usuário serão coletados, alguns mesmo sem autorização expressa, para sem utilizados para fins que não constam na política de privacidade”.

Segundo Chia, cada vez mais empresas buscam modelo de monetização para coletarem dados dos usuários (Reprodução – Site Primeira Notícia/UFMS)

Por que querem meus dados?

“Os dados são o novo petróleo”, já dizia o matemático Clive Humby. O mantra é repetido aos montes por executivos da área digital e ganhou um adendo peculiar do CEO da Mastercard, Ajay Banga, que acrescentou destacando que “a diferença é que o petróleo vai acabar um dia”.

Atualmente o grande objetivo dos softwares e aplicativos coletarem os dados do usuário é usá-los para publicidade personalizada, por contratos publicitários alimentados por algoritmos que só conseguem fazer esse direcionamento porque coletam os nossos dados.

Tem como evitar?

Boa parte das ações para evitar a coleta indiscriminada dos dados depende dos próprios usuários. Uma delas é passar a ler os contratos dos aplicativos e softwares antes de aceitá-los. Raphael Chaia destaca que “a gente tem que criar essa cultura de pelo menos dar uma passadinha de olho nos termos de uso e principalmente na política de privacidade antes de sair aceitando qualquer coisa porque são nesses documentos que ficam as armadilhas”.

Infelizmente, muita gente continua não dando o devido valor aos seus dados e permanece indiferente acerca da maneira que as empresas do ramo digital coletam e usam as informações dos usuários. Fica o recado do professor: “Não adianta reclamar depois que você começou a receber um monte de ligação de spam, e-mail de spam, ou pior ainda, receber links maliciosos por e-mail ou outros meios de contato”.

Eles só crescem

Recente a Conmebol anunciou que o Kwai será um dos patrocinadores da Copa América. Ser anunciante de uma competição continental do futebol exige alguns milhões e para Chaia “isso coloca em perspectiva para gente quanto valem nossos dados. A gente está falando de um aplicativo de vídeo, que agora está ficando popular, patrocinando um dos maiores eventos esportivos da américa latina. De onde vem todo esse dinheiro?”.

Ouça a entrevista completa com todos os detalhes. O professor Rapahel Chaia fala também das medidas legais que podem ser adotadas: